O papel do setor privado no desenvolvimento da primeira infância

Evento realizado pela United Way, Unicef, Eearly Childhood Development Action Network (ECDAN) e Open Society Foundations trouxe soluções e ideias de como o setor empresarial pode apoiar o desenvolvimento infantil, especialmente em situações complexas como a da pandemia mundial gerada pela Covid-19. 

O evento “Setor Privado e o Investimento na Primeira Infância”, realizado no dia 13 de agosto, reuniu mais de 100 pessoas de diferentes países para refletir sobre as demandas atuais e emergenciais que possam atender crianças de 0 a 6 anos e suas famílias em situação de vulnerabilidade social. Sobretudo, os painelistas pontuaram ações concretas que o setor privado vem realizando, assumindo a corresponsabilidade pelo desenvolvimento infantil integral. 

A realidade, especialmente na América Latina, é que, embora seja perceptível a crescente importância dada à primeira infância, a demanda por recursos adequados para atender gestantes e crianças de 0 a 6 anos nem sempre tem sido atendida pelo setor público. Por isso, fica cada vez mais evidente o papel do setor privado como financiador dos investimentos necessários ao bem-estar da primeira infância, assim como seu papel fundamental na gestão e criação de iniciativas que promovam boas práticas nas comunidades, famílias e corporações.

Eduardo Queiroz, Diretor Regional da United Way na América Latina, ressaltou a prática desenvolvida há mais de 130 anos pela organização mundial em trabalhar com o setor privado. Tal prática, segundo Eduardo, tem trazido ótimos resultados nos países latino-americanos, possibilitando que as famílias, especialmente em situação vulnerável, recebam formação e benefícios para favorecer o desenvolvimento pleno de suas crianças.

Yanning Dussart, coordenador do escritório do Unicef para o Caribe e América Latina, reforçou que empresas e indústrias podem apoiar o Estado e também impactar positivamente a primeira infância atuando com seus colaboradores, por meio de políticas internas; com as comunidades onde estão inseridos; com fornecedores e clientes, ou seja, influenciando todo o seu ecossistema.

Elizabeth Lule, da ECDAN, lembrou que em momentos de crise, a parceria entre o setor público e privado sempre favorece o enfrentamento dos grandes desafios, portanto, potencializá-la, no que diz respeito à primeira infância, é um caminho possível, com bons resultados.

O que dizem as empresas

Eva Fernandez, Gerente de Primeira Infância da Fundação FEMSA, braço social da empresa FEMSA, no México, acredita que investir na primeira infância é a melhor estratégia para uma empresa, porque gera valor econômico e social simultaneamente. Ela parte do pressuposto que as corporações só são bem-sucedidas quando se vinculam à sua comunidade e aos seus colaboradores, sendo a causa da infância um dos aspectos mais importantes na vida desses públicos. 

A gerente compartilhou três frentes de atuação da Fundação para contribuir com a primeira infância: comunidades resilientes (apoio a famílias para o desenvolvimento socioemocional de adultos e crianças); espaços públicos seguros e com foco na infância, realizados em parceria com organizações aceleradoras e start up, tendo a inovação e a escalabilidade como fatores principais; e famílias de apego, com ações voltadas às regiões em conflito para fortalecer vínculos dessas populações com suas crianças. Além disso, a Fundação realiza seminários para capacitar o funcionalismo público sobre o tema da primeira infância e tem atuado para a construção de uma agenda regional e de país, em articulação com outras instituições privadas e públicas.

Já na Colômbia, Cristina Gutierrez, Diretora Executiva da United Way local, explicou que o trabalho em parceria com empresas e setor público tem foco na diminuição da defasagem escolar, desde a primeira infância, e na melhoraria dos serviços oferecidos às crianças nessa etapa da vida. A metodologia para gerar resultados amplos e sustentáveis é a do impacto coletivo, com ações sistêmicas e acordadas entre os envolvidos, sempre pensadas com base em evidências. Para que o sucesso seja alcançado, Cristina indica cinco tópicos a serem perseguidos conjuntamente pelos parceiros: agenda comum; compartilhamento de ferramentas; ações de apoio mútuo com aprendizagem contínua; comunicação efetiva e permanente; e a definição de um comitê gestor para administrar a ação. 

Grácia Fragalá, Vice Presidente do Conselho Superior de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), falou sobre o trabalho que sua área realiza para que as empresas associadas à Fiesp integrem as questões sociais na gestão dos negócios, com base na Agenda 2030 da ONU. No que diz respeito à primeira infância, promove workshops com as lideranças, que formam o grupo de embaixadores e investidores da causa. Também ressaltou a criação de um guia, realizado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e United Way Brasil, voltado ao empresariado, que será transformado em uma plataforma digital aberta e gratuita. Nela estarão várias experiências de diferentes corporações voltadas ao desenvolvimento infantil, para seus públicos interno e externo, que podem ser adotadas e customizadas por empresas de diferentes portes. Para ela, as empresas e as indústrias têm papel fundamental no enfrentamento das desigualdades sociais, que já começam na primeira infância.

Carolina Crosta, Coordenadora de Negócios da Telefônica Movistar, na Argentina, trouxe várias contribuições sobre o papel das empresas no desenvolvimento da primeira infância, com base na experiência da corporação, cujo foco é implementar políticas e práticas internas que viabilizem que pais e mães colaboradores possam conciliar suas vidas pessoal, familiar e profissional, sem prejuízo à convivência e aos vínculos que devem estabelecer com seus filhos. 

Para ela, levar a corporação a se configurar como um benchmark de atuação pela primeira infância é uma estratégia para ampliar os esforços e a motivação de se dedicar à causa e fortalecer a marca.

Como colaboração ao público interno, Carolina reforça a importância de as empresas terem claras as agendas sociais locais, suas demandas, definindo o que fazer e que recursos aportar para respondê-las.

O encontro virtual foi articulado conjuntamente pelo Unicef, Eearly Childhood Development Action Network (ECDAN), Open Society Foundations e United Way.