Empresas: precisamos falar sobre formação de jovens-potência!

Muitas corporações não empregam jovens da periferia porque acreditam que a falta de experiência e de qualidade da educação formal recebida podem ser um fator negativo. Outras ainda esbarram em questões de CEP (distâncias geográficas), raciais e de gênero, aspectos excludentes, injustos e retrógrados, aliás.

A questão é que jovens-potência são quase a maioria em grande parte do país. Só em São Paulo, temos 700 mil que estão sem trabalho e sem oportunidades para estudar. Não é difícil deduzir qual será o futuro dessa população se nada for feito para prepará-los e incluí-los produtivamente – e o impacto dessa negligência no desenvolvimento socioeconômico.

Jovens-potência têm de 15 a 29 anos, possuem capacidade para se desenvolver, vontade de transformar suas vidas e seu entorno. Enfrentam um contexto de desigualdades e racismo sistêmico, que dificulta o acesso às oportunidades formais de trabalho e de estudo, colocando-os em situação de vulnerabilidade social.

Felizmente, uma parte das empresas resolveu assumir a causa da inclusão produtiva das juventudes periféricas. No lugar de não selecionar e não contratar jovens das quebradas, elas criaram estratégias para apoiar sua formação. Esse é o pulo do gato para quem tem visão de futuro e reconhece a potência daquelas e daqueles que vivem nos arredores dos grandes centros, com muita vontade de aprender e com habilidades essenciais para a vida profissional, como resiliência, criatividade, motivação, dentre tantas outras.


A sua empresa contrata jovens-potência?

A formação de jovens é o ponto de partida para garantir que se tornem profissionais competentes em todos os níveis (do técnico ao relacional). Logo, criar oportunidades para oferecer conhecimento e aprendizado às juventudes é meio caminho andado nesse sentido.

Mas não é preciso começar do zero. A empresa pode buscar o apoio de instituições de ensino e organizações sociais que atuam com juventudes em situação de vulnerabilidade. Mas é bom ficar atento para saber se os conteúdos dos cursos oferecidos por essas instituições respondem às demandas e à realidade do mercado. Lembre-se que cada território tem sua vocação econômica, por isto, a formação precisa ser contextualizada.

Outra dica é a corporação criar oportunidades de formação para jovens-potência do seu entorno, o que diminui barreiras de deslocamento e contribui ao desenvolvimento local. Escolas públicas são uma ótima opção para isso.

Aderir ao programa Jovem Aprendiz é outra possibilidade, assim como apoiar modelos acessíveis de ensino técnico e profissionalizante para aumentar a preparação das juventudes para o mercado de trabalho.

E quando os jovens estiverem em formação, garantir uma bolsa-auxílio é fundamental, evitando abandonos por conta da necessidade de trabalhar para ajudar no sustento de suas famílias. Também é bom lembrar que jovens-potência muitas vezes não têm acesso à internet ou, se têm, ele é precário. Por isso, oferecer essa estrutura para frequentar cursos a distância se torna essencial aos avanços desses jovens.

Formar jovens-potência para o mundo do trabalho não só é possível como necessário. Na crise pós-pandemia, fica cada vez mais clara essa urgência. A taxa de desemprego entre jovens brasileiros é de quase 30%. Em São Paulo, ela chega a 35%.

O GOYN SP tem atuado para reverter esse quadro, por isso reúne mais de 70 jovens, organizações e empresas para criar e implementar soluções que promovam a inclusão produtiva das juventudes das periferias. Sua empresa pode fazer parte dessa rede. É só entrar em contato conosco: ofuturoejovem@uwb.org.br

De formações a oportunidades: uma feira para promover a inclusão produtiva de jovens

A “Feira de Carreiras – Trilha de Oportunidades”, evento realizado pelo GOYN SP, em parceria com o Cieds, foi um marco para a inclusão produtiva de jovens-potência. Realizada no dia 19 de outubro, na plataforma YouTube, trouxe diferentes atores e temas relacionados à empregabilidade, oferecendo às juventudes periféricas subsídios para que possam traçar seus objetivos e planos de formação e de carreira.

Tuty, jovem de 22 anos, monitora cultural e ilustradora, moradora da Zona Norte, conduziu o evento ao lado de Victor, 20 anos, ator e monitor cultural, também da Zona Norte.

A diversidade foi pano de fundo de toda a programação, que garantiu a participação de todos, todas e todes, a começar pela tradução em Libras e a autodescrição feita pelos jovens apresentadores e pelos especialistas convidados, permitindo que pessoas com deficiência visual e auditiva também se sentissem parte desse momento único, com o objetivo de fortalecer uma rede de network e um espaço de debates sobre questões relacionadas ao primeiro emprego e ao mundo do trabalho.

O evento, inédito, com 6 horas de duração, reuniu, ao vivo, 15 parceiros, de áreas distintas, mobilizados para trazer conteúdos de qualidade e vagas, comunicadas durante a feira, aos mais de 600 participantes que, superanimados, interagiram no chat e nos workshops.

Assista ao evento na íntegra:

Juventude e trabalho

O primeiro painel da Feira, mediado por Taís Lopes, moradora do Capão Redondo, jovem embaixadora do GOYN SP e colaboradora do Vocação, discutiu as possibilidades de inclusão produtiva das juventudes, por meio de parcerias entre poder público, sociedade civil organizada e os jovens. 

Ramirez Lopes, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, de São Paulo, enfatizou o trabalho que tem sido realizado pela administração pública para fazer a ponte entre as demandas das juventudes e as organizações sociais que atuam com os jovens, apoiando-os na busca por emprego. Além disso, Ramirez contou que, junto ao escritório da Organização das Nações Unidas (ONU), “estamos construindo o Plano Municipal de Juventude, um processo que será colaborativo e vai mobilizar toda a rede com o propósito de definir uma lei que determine o que deve conter na política pública, que irá estruturar o Plano Municipal de Juventude.”

“A participação ativa das juventudes nessas construções é essencial. E são juventudes no plural mesmo, porque não é uma só, os jovens são diversos”, reforçou Pâmela, que atua no GOYN SP, reforçando a importância de colocar os jovens no centro das decisões sobre aquilo que irá afetá-los direta e indiretamente, para que as ações pensadas dialoguem, de fato, com as necessidades e expectativas dos jovens-potência.

Rafael Biazão, do Cieds, concorda e reforça: “É importante que as juventudes em situação de vulnerabilidade social conheçam os seus direitos. Fazer a escuta dos jovens sobre o que eles querem do futuro, o que faz sentido para eles, é essencial para gerar oportunidades que tragam resultados efetivos para essa população.”


Workshops mobilizaram a galera com temas conduzidos por diferentes organizações 

Os jovens que participaram da Feira puderam ter acesso a 10 workshops, todos com temas de total relevância – que estarão, em breve, disponíveis no YouTube do GOYN SP para você acessar a qualquer hora.

Na parte da manhã, Talita Botelho conduziu a conversa sobre “Como administrar seu dinheiro”; o Cmov-Construindo Carreiras assumiu o diálogo sobre “Processos seletivos, entrevistas de emprego e como se preparar”; a Fundação Paulistana de Educação, Tecnologia e Cultura trouxe para o workshop o tema “Como fazer um bom marketing pessoal e construir conexões profissionais”; o Youth Voices Brasil deu uma aula de “Como usar o LinkedIn a seu favor na busca por emprego”; por fim, ficou por conta do Ifood falar sobre “Diversidade na Área de Tecnologia: Você também pode!”.

À tarde, as conversas continuaram, desta vez com os temas “Empreendedorismo: como construir seu próprio negócio”, liderado pela Aliança Empreendedora; “Como se comportar em uma entrevista de emprego e manter uma boa postura profissional”, bate-papo com o representante da Worc – Empregabilidade; “Como fazer um bom marketing pessoal e construir conexões profissionais” foi a discussão conduzida pela Fundação Iochpe; e “Autoconhecimento: como se conhecer te ajuda a ingressar no mercado”, um debate encaminhado pela Oré Consultoria.


Mesas temáticas

As juventudes participaram das discussões trazidas por duas mesas. A primeira delas, que contou com jovens colaboradores em grandes empresas, debateu “Diversidade no mercado de trabalho”. Daniel Silva, de 22 anos, profissional da área de Controles Internos, e Amanda, do grupo de diversidade racial, ambos do banco JP Morgan, Vitor Eleotério, do Ifood, Mariana Costa, jornalista, da PwC Brasil, e Taina Santos, coordenadora de projetos da organização social Em Movimento, trouxeram suas contribuições. A conversa foi mediada pela jovem-potência do Núcleo Jovem do GOYN SP, Julia dos Santos Pereira, 25 anos. Ela é formada em TI e atualmente trabalha na área de RH. 

Sobre a promoção da diversidade nessas empresas, os jovens afirmaram que existem políticas sólidas que atuam tanto dentro como fora das corporações.

“O banco faz doações e linhas de crédito diferenciadas para comunidades negras”, exemplificou Daniel, da JP Morgan.

“Os profissionais podem ser o que são na empresa, sem medo. Temos uma semana toda dedicada para esse tema. Somos engajados com todas as causas ligadas à diversidade”, afirmou Mariana, da PwC

“Apenas 20% das mulheres ocupam algum cargo em TI. Na empresa, temos muitas campanhas para mudar isso. Eu mesmo estou na empresa por conta de uma campanha de inclusão”, relatou Vitor, do IFood.

“Fomentamos a causa da diversidade por meio de coleta de evidências, que é um dos pilares do Em Movimento”, comentou Taina.

A conversa prosseguiu, ressaltando dados colhidos pelo Atlas das Juventudes sobre diversidade e como empresas e organizações sociais podem se aliar para que o ecossistema produtivo seja mais diverso e inclusivo, a partir de práticas que já implementam.

Na segunda mesa da tarde, “Formação e Profissionalização”, Bárbara Rodrigues, do Cieds, Claudio Anjos, da Fundação Iochpe, Julio Cesar, da Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Fábio Zatz , do Worc – Empregabilidade e Juliana Gregory Cavalcante, do Arco Instituto discutiram as diferentes oportunidades de formação voltadas aos jovens periféricos, por meio de parcerias com empresas, escolas e outras instituições que podem alavancar o desenvolvimento cognitivo e profissional das juventudes. Também deram dicas de como os jovens podem se preparar para as entrevistas e seleção de empregos, por exemplo. A conversa foi mediada pela Suzana Leite, do Núcleo Jovem do GOYN SP, que trabalha na Agência Mural, ligada à promoção das ações da quebrada.

Diante da pergunta da mediadora, sobre o que as empresas procuram nos jovens, o pessoal da mesa trouxe várias contribuições para munir as juventudes de ferramentas para a conquista do primeiro emprego. “Quanto mais o jovem mostrar interesse e que tem garra, disposição, melhor. O restante, a gente aprende e caminha junto”, citou Claudio.

Juliana ressaltou a vontade de aprender e o protagonismo como características importantes que os jovens precisam fortalecer para conquistar seus espaços no mercado de trabalho. “Às vezes você não precisa ter tido experiência prévia, mas pode contar, na hora da contratação, os cursos que você fez, conversar com pessoas que já conseguiram o primeiro emprego pra trocar ideias, testar formatos de currículo com quem já passou por essa fase”, sugeriu.


Momento cultura da periferia: tudo de bom!

Colocar o jovem no centro significa, também, dar espaço para suas manifestações, em todos os níveis. O que não falta na quebrada é arte e cultura de qualidade. Na Feira, um pouco desse mundo de criatividade foi representado por talentos incríveis.

Latina Plural, 21 anos, da zona sul periférica de São Paulo, rapper e poetisa, traduz, em forma de texto, a sua caminhada no mercado de trabalho. No seu texto, ela contou como começou a sua jornada profissional, no call center, para, então, depois de muita batalha e resiliência, se tornar quem é hoje, uma artista independente. Um retrato da realidade das juventudes periféricas, que você pode conferir, na íntegra, abaixo:


Durante todo o evento, a artista Taoly Dandara, jovem-potência das quebradas, fez a facilitação gráfica de tudo o que foi discutido, gerando um painel incrível, recheado de mensagens-chave.

Artista: Taoly Dandara

Para encerrar o evento, La Aura, da Zona Leste, jovem cantora de voz belíssima, apresentou-se com seu filho Jorginho, emocionando todo mundo com o cover “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Em seguida, Ravih, cantor e compositor, de Parelheiros, que já é conhecido e reconhecido no Brasil e em países da América Latina, interpretou suas composições, de tirar o fôlego! Confira as apresentações abaixo:

Para saber tudo o que aconteceu na “Feira de Carreiras – Trilhas de Oportunidades”, assista o evento na íntegra.

Essa iniciativa contou com muitas organizações e empresas que se juntaram ao GOYN SP e ao Cieds para levar à prática a missão de criar oportunidades de inclusão produtiva de jovens-potência de São Paulo. Você também pode fazer parte dessa rede. Então, vamos juntos?

O GOYN SP é articulado, em São Paulo, pela United Way Brasil e conta com o apoio institucional das seguintes organizações: