Impacto coletivo na prática e seus resultados

No último painel do primeiro dia do Fórum Brasileiro de Impacto Coletivo, que aconteceu em setembro, lideranças femininas de três organizações internacionais compartilharam suas experiências, dialogando sobre os desafios da metodologia em diferentes contextos. O evento foi realizado pela United Way Brasil em aliança estratégica com Collective Impact Fórum, Aspen Institute, Global Opportunity Youth Network (GOYN) e Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas). Apoio de disseminação de conhecimento do Instituto Sabin e cooperação da FEMSA e OEI.

O painel “Impacto coletivo na prática e seus resultados” foi mediado por Jennifer Splanksy, diretora-executiva do Collective Impact Forum, e contou com as presenças de Liz Weaver, co-CEO do Tamarack Institut; Paulina Klein, do Impacto Coletivo para pesca e aquicultura do México; e Amy Ahrens, vice-presidente de Parcerias de Impacto Coletivo da United Way.

O objetivo dessa conversa era tangibilizar a teoria sobre impacto coletivo em ações concretas. Liz Weaver apresentou a experiência do Tamarack Institute, cujo objetivo é a redução da pobreza no Canadá. Uma ação que já completou 20 anos e que partiu de iniciativas que pudessem transformar a maneira como os canadenses olhavam para essa questão. Para dar conta de um longo e robusto processo, três organizações assumiram a coordenação das estratégias e, atualmente, 300 comunidades são beneficiadas pelos resultados do impacto coletivo.

Uma das partes fundamentais dessa equação complexa foi promover a colaboração transetorial para atuar em diferentes segmentos e garantir oportunidades às populações mais pobres. Foram mobilizados os diversos níveis de governo, empresas, instituições e organizações filantrópicas, em um trabalho coletivo.

“Quando começamos, em 2000, o índice de pobreza de nossa população era de 15%. Queríamos diminuí-lo. Hoje, essa curva está caindo e passamos para a etapa de erradicação da pobreza nos próximos 10 anos”, explicou Liz.

As ações para conter e acabar com a pobreza envolvem a área de transporte, habitação (com um investimento de 55 bilhões de dólares em políticas de moradia), educação, saúde etc. O “pulo do gato” foi identificar as prioridades dos territórios e pensar com eles soluções para contemplá-las. “Criamos uma rede formada pelas comunidades, que se mantêm conectadas. Aproveitamos o que já existia de bom nessas comunidades e trabalhamos a partir daí”, reforçou.

Atuar coletivamente, envolvendo todos os níveis 

Em Salt Lake City, no estado de Utah (EUA), a atuação da United Way foi essencial para entender o que, de fato, as comunidades estavam vivenciando e como as ações impactavam positivamente ou não. “A gente via uma desconexão. De um lado, a situação ruim das comunidades e de outro as pessoas dizendo que os resultados das ações do programa social eram maravilhosos”, comentou Amy Ahrens.

Então, foi necessário ir aos territórios para ouvir essas populações. Fazer parcerias com as instituições locais. Hoje, a United Way mantém uma rede de 40 escolas para discutir com os profissionais, as famílias e os alunos as questões que afetam o aprendizado e a permanência na sala de aula, por exemplo.

Também reuniram dados sobre o que desejavam mudar e como medir resultados qualitativos para avaliar se o que estava sendo feito realmente trazia benefícios e avanços aos públicos-alvo.

Outra ação realizada foi convidar nove líderes comunitários para desenhar estratégias que garantam a empregabilidade de jovens em situação de vulnerabilidades, assim como a formação de grupos formados por pessoas dos territórios em torno de um objetivo específico, por exemplo, o aumento da taxa de estudantes que concluem as etapas de ensino. Com esse ponto comum, todos passaram a se dedicar e a desenhar estratégias capazes de transformar as comunidades a partir de uma educação mais qualificada. “Para que as mudanças aconteçam, é preciso trabalhar com atores de todos os níveis relacionados a uma determinada questão a fim de que persigam, coletivamente, resultados equitativos, sempre com base em dados, indicadores e metas comuns”, reforçou Amy.

Atuação nacional para enfrentar um desafio de todos

Fortalecer o setor da pesca e aquicultura é um propósito do México, já que essas atividades têm importante papel na economia do País e afetam, também, questões relacionadas ao meio ambiente.

“Nesse setor existem muitos conflitos que envolvem diferentes atores, desde os que trabalham na governança nacional e local até pescadores, produtores e moradores das comunidades. Além disso, temos de cuidar dos impactos na natureza”, elucidou Paulina Klein. A preocupação em manter um equilíbrio levou algumas organizações sociais a se juntarem e convidarem outros setores para um amplo diálogo e um trabalho multissetorial.

Vários avanços têm sido celebrados, como a criação de recomendações e estratégias para as comunidades pesqueiras sobre a preservação do meio ambiente, assim como a elaboração de procedimentos de inspeção e vigilância para o combate da pesca ilegal.

Paulina acredita que um dos aspectos determinantes para o sucesso e a manutenção desse trabalho, a partir da metodologia de impacto coletivo, foi a construção de relações de confiança. “É isso que mantém as pessoas compromissadas e mobilizadas, querendo saber e fazer mais, mesmo após quatro anos de implementação da inciativa”, relatou.


Assista ao painel, na íntegra:

DURANTE TODO FÓRUM BRASILEIRO DE IMPACTO COLABORATIVO, OS PARTICIPANTES FORAM CONVIDADOS A COLABORAR E COMPARTILHAR SUAS REFLEXÕES SOBRE OS TEMAS ABORDADOS NOS PAINÉIS. DURANTE A EXPLANAÇÃO DAS TRÊS LIDERANÇAS FEMININAS, ESTAS FORAM AS PRINCIPAIS EXPRESSÕES REGISTRADAS NO JAMBOARD:

  • Criar soluções sem dialogar com quem será beneficiado por elas não gera impacto coletivo. Trazer essas pessoas para as ações para pensar e planejar juntos é essencial!
  • Sem uma colaboração intersetorial, as mudanças não avançam
  • Impacto não é uma listinha de itens a serem checados
  • Impacto Coletivo é um framework para diferentes abordagens
  • Paciência e olhar a longo prazo são vitais para viabilizar o impacto coletivo
  • Mobilizar e intermediar conhecimento, parcerias e investimento
  • Processos coletivos geram aprendizagens diárias e constantes
  • Dados são fundamentais para embasar as soluções

Na próxima matéria, confira as principais reflexões trazidas pelos representantes do The Global Opportunity Youth Network (GOYN) sobre o complexo tema da empregabilidade das juventudes e a metodologia do impacto coletivo como estratégia para superar desafios da inclusão produtiva de jovens.

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