Live desconstrói mitos sobre alimentação na primeira infância

A última live de 2020, no dia 11 de dezembro, encerrou a série realizada pelo programa Crescer Aprendendo, trazendo à discussão a importância da alimentação saudável nos primeiros anos de vida, com o objetivo de desmistificar mitos e compartilhar informações práticas sobre o tema às famílias do programa.

Alimentação é um tema que preocupa pais e cuidadores, já que nutrir as crianças corretamente tem fundamental importância para o bom desenvolvimento infantil. Na fase do “não quero”, “não gosto”, as famílias, muitas vezes, não sabem como agir nem o que priorizar no cardápio das crianças. Também não faltam apelos publicitários das marcas de produtos ultraprocessados para atrair os pequenos a tudo o que não devem consumir nessa etapa da vida.

Desmame e introdução de alimentos é outra temática que traz muitas dúvidas, especialmente às mães: qual é o momento certo? O que fazer quando a criança não quer largar o peito? Qual é a quantidade certa?

Para debater estas e outras questões, o programa Crescer Aprendendo, da United Way Brasil, convidou Rachel Francischi, nutricionista formada pela USP e mestre pela Unicamp, Clariana Oliveira, doutora em saúde pública pela Universidade de São Paulo, pós-doutora em primeira infância e desenvolvimento infantil, na Universidade de Harvard, Leticia Silva, enfermeira mestre em Ciências da Saúde, especialista em saúde mental e desenvolvimento infantil, e Cecília Cury, advogada, mestre e doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP, cofundadora do Alergia Alimentar Brasil e coordenadora do movimento Põe no Rótulo, que apoiou a realização da live.

O ponto de partida dessa conversa foi a definição do que é, afinal, uma alimentação saudável: “A comida que uma criança precisa é a comida de verdade, que vem da nossa panela, que vem da natureza. Tudo o que a terra nos dá, como as frutas, as verduras, o arroz com feijão, o milho, o repolho, as carnes, o frango, o peixe, e do jeito que a natureza nos dá, sem passar pelo processamento alimentar”, explica Rachel. 

Porém, não basta querer que os filhos comam bem se o exemplo não vem dos adultos, como reforça Leticia: “O pai e a mãe são espelhos para a criança, então se ela vê os pais comendo, ela tende a comer também aquele alimento. A criança imita o comportamento que vê diversas vezes. Se os pais tiverem uma dieta saudável, balanceada, cheia de alimentos naturais, a tendência de a criança querer comer esse tipo de alimento é muito maior.”  

Outro fator importante para os pais e cuidadores se sentirem mais seguros sobre aquilo que oferecem aos filhos é conhecer o que contém cada alimento. Portanto, ater-se à leitura do rótulo é uma prática que todos devem adotar. “Uma lista de ingredientes muito longa, geralmente indica um alimento ultraprocessado, porque tem uma série de elementos químicos, acidulante, espessante e um monte de ‘ante’ que não vão fazer bem para a nossa saúde no longo prazo e que a gente tem que evitar. Então, é importante buscar alimentos que contenham ingredientes que a gente consegue reproduzir em casa. Por exemplo, não dá tempo de eu fazer pão em casa.  Vou comprar pão, mas, antes, quero saber o que ele contém. Farinha, água, fermento e sal? Certo, é o que eu faria em casa também.  Mas se a gente pega um saco de pão e lê que tem ‘fosfato de cálcio de não sei o que, conservador de tal, pirofosfato do monossódico…’  O que é isso? Se o rótulo não fala a minha língua, eu não entendo o que ele quer dizer, então, prefiro não comprar.”

E o que fazer quando a criança não gosta de frutas, verduras e não quer se aventurar a experimentar alimentos novos?

Clariana sugeriu algumas estratégias, dentre elas “usar o lúdico em benefício da alimentação da criança, propondo jogos, apresentando aquele prato de forma diferente, usando carinhas feitas com legumes e verduras. Várias pessoas falam que a gente come pelos olhos e isso é uma verdade, muitas vezes o que atrai é a forma como o prato é apresentado para a gente. Outra dica: não castigue a criança se ela rejeitar o alimento, não faça barganhas como, ‘se você comer seus legumes e frutas, vai ter seu docinho no final’. Isso pode criar uma relação ruim com os alimentos, levando a a pensar que ‘primeiro tenho que comer ‘essa coisa ruim’ pra depois comer a ‘coisa boa.’ E quando a criança é um pouco maiorzinha, participar na preparação das refeições, manipulando os alimentos, sentindo a textura, se acostumando com a forma daquele alimento com certeza é muito importante para que ela se sinta atraída em experimentar cada vez mais coisas novas”. 

Pensar em quantas vezes oferecer refeições às crianças em cada fase da primeira infância e qual a porção certa de alimento são outras dúvidas de muitas famílias. “Para um bebê entre seis meses e um ano de idade nós devemos oferecer alimentos quatro vezes ao dia – uma fruta no meio da manhã, o almoço no finalzinho da manhã, uma fruta no meio da tarde e o jantar no final da tarde -, juntamente com o leite materno no esquema que a gente chama de livre demanda, ou seja, sempre que o bebê quiser. Caso o bebê entre 6 meses e 1 ano de idade não se alimente com o leite materno, o número de mamadas deve variar em torno de três ao dia, no máximo”, explica Rachel. E complementa: “Em relação à quantidade, o ideal é oferecer o quanto a criança quiser, nem mais, nem menos. A criança tem o que a gente chama de autorregulação da fome, do apetite e da saciedade. A criança sabe o quanto ela precisa comer de alimentos naturais.”

Ao final da live, as especialistas responderam com ‘verdade’ ou ‘mentira’ às questões levantadas pela mediadora com base em crenças populares, por exemplo, que a salsicha é um ótimo alimento para as crianças. Cecilia respondeu:Mentira! Se a gente olhar a lista de ingredientes de uma salsicha, definitivamente ali tem de tudo, menos comida, aquela que, como bem disse a Rachel, é comida de verdade, comida da panela, que a gente sabe exatamente como foi feita. Não tem como fazer uma salsicha em casa, então, ela não é um alimento que a gente possa colocar na nossa alimentação e ela não é um tipo de carne”, concluiu.

Confira, no link, a íntegra da live “Verdades e mitos sobre alimentação na primeira infância”, realizada em parceira com as empresas Ecolab, Lear, O-I, P&G, Phoenix Tower do Brasil e 3M e apoio do movimento Põe no Rótulo. A live encerra o ano de 2020 do programa Crescer Aprendendo, que retorna em 2021 com novas iniciativas: https://www.youtube.com/watch?v=xwfw1anEab0