Voluntariado: estratégia para enfrentar as desigualdades sociais

“Como cidadãos organizados, temos de olhar para a nossa consciência e dizer: esta maneira de ser – e digo a maneira de ser indiferente –, de estar indiferente ao sofrimento do outro (…) é contra o reconhecimento de que todas as pessoas nascem iguais e têm os mesmos direitos, nem mais e nem menos direitos.”

Graça Machel, moçambicana, ativista negra e protagonista da independência de Moçambique e do Apartheid, em live realizada pela parceria United Way Brasil, P&G e Lear Corporation

O atípico momento, revelado pela pandemia e suas consequências, tem exigido mudanças estruturais na nossa forma de ver e estar no mundo, se quisermos sair disso tudo melhores, como uma sociedade mais saudável e humana.

Interessante pensar no caráter “democrático” da Covid-19: atinge todos e todas. Por outro lado, o mais inquietante é perceber que, por conta da desigualdade absurda em que estamos inseridos, os efeitos do vírus não seguem essa equidade. Os mais pobres e vulneráveis economicamente são os que têm suas chances de sobrevivência reduzidas quando são confrontados pelos efeitos do coronavírus e do isolamento social. Ou seja, além da maior probabilidade de se contaminarem, ainda sofrem com a falta de recursos para manter suas necessidades básicas. Porém, os impasses não param por aí. Temos que nos perguntar: o que fazer para apoiar quem está na base da pirâmide social e minimizar os efeitos nefastos da pandemia em suas vidas?

Voluntariado em tempos de isolamento 

Uma das vertentes do trabalho mundial da United Way é o voluntariado, especialmente com as empresas que nos apoiam e que direcionam recursos aos nossos programas sociais de primeira infância e juventude.

A pandemia nos colocou diante de um desafio: migrar as ações presenciais para o formato on-line. Fizemos essa mudança estratégica com os programas e, também, com o voluntariado. A situação acabou se transformando em oportunidade para ampliar o alcance de nossas iniciativas, via meios digitais. 

No que diz respeito ao voluntariado, criamos uma ampla estratégia para envolver os colaboradores das empresas nos nossos programas. 

As crianças do Crescer Aprendendo (voltado à primeira infância) serão impactadas por diferentes ações que começaram a ser planejadas em setembro. Desenhamos atividades que vão proporcionar aos pequenos momentos lúdicos, de brincadeiras, convívio familiar, criatividade e faz-de-conta, temas essenciais ao desenvolvimento saudável de toda criança, prejudicados pelos desafios que as famílias enfrentam atualmente.

Nossa equipe está capacitando os voluntários para contarem histórias, elaborar vídeos e participar de um dia especial, em rede, com centenas de crianças e suas famílias. 

Para a juventude, por meio do programa Competências para a Vida, o voluntariado acontece no formato de mentorias, que têm alcançado bons resultados tanto para os mentorados como para os mentores. O objetivo é dar aos jovens oportunidades de repensarem suas vidas pessoais e profissionais para além da pandemia, com suporte de quem já viveu essa fase da vida e, também, teve de vencer tantos desafios. Boa parte dos jovens desanimou e não vê como tocar seus projetos de vida e as mentorias apoiam nesta importante retomada.

Toda essa experiência e a nossa capacidade de articulação vêm mostrando que o voluntariado digital se configura não só como uma medida de urgência, mas como uma estratégia que veio para ficar, por ser segura, eficaz e escalável. As possibilidades de as pessoas colaborarem virtualmente junto às organizações sociais são amplas e incontáveis e abarcam qualquer cidadão que queira colaborar.

Voltando à indignação de Graça Machel, expressa no texto que abre este artigo, é muito importante não naturalizar ou se conformar com desigualdades sociais, porque são elas que agravam – e muito – os efeitos da pandemia.

Por isso, estamos abertos para discutir formatos e maneiras de atuar, especialmente na área de voluntariado digital. Vamos juntos?